sábado, 10 de setembro de 2016

A VIOLÊNCIA POLICIAL É UM CRIME. NÃO PODE FICAR IMPUNE. Por Fernando André Arruda



Por Fernando André Arruda, sociólogo.

As ruas ganham um novo colorido social na resistência democrática. Há uma fermentação natural envolvendo esse novo cenário político, misturando gerações, classes e raças, sem hegemonias de partidos tradicionais e dominâncias de comando político identificável.

Talvez esse caráter inusitado da mobilização social anuncie uma relativa autonomização dos movimentos sociais, movida mais por desejos horizontalizados do que pelos velhos comandos verticais. Essa aparente espontaneidade, unida pela vontade do "Fora Temer", tem como agenda a defesa da democracia através de novas eleições. Essa chave é suficiente para ascensão de um amplo movimento de mobilização social, capaz de abalar a tranquilidade da elite golpista.

O protesto de Sete de Setembro na orla da praia de Fortaleza foi marcado por uma irreverência alegre e pacífica. Na caminhada pelas ruas do bairro nobre da cidade, ornamentadas por prédios de opulência luxuosa, os manifestantes eram desafiados, em diversos momentos, por agressões verbais, cartazes e bandeiras remanescentes do movimento "Fora Dilma". As provocações animavam as chamas de resistência, fazendo ecoar as palavras de ordem " Fora Temer", "Fascistas, não passarão", sem nunca descambar para atos de violência física ou qualquer atitude de depredação dos bens públicos ou privados. E isso porque no percurso da caminhada existiam lojas de bancos e revendedoras de carros, símbolos frequentes onde se despejam as iras dos indignados.

Existia forte era o destemor na defesa da democracia, estampados no rostos pintados de uma juventude de estudantes, das classes médias e periféricas, que inundavam as avenidas desertas de carros. Em todo o trajeto inexistia qualquer policiamento, nem militar e nem de trânsito, sendo os próprios caminhantes que sinalizavam a interrupção das vias, sem necessidade de conter qualquer impulso de vandalismo, já que inexistente.

Enquanto existia as provocações de alguns moradores do bairro nobre, destilando o seu ódio das janelas e sacadas dos seus prédios, verdadeiras fortalezas medievais, cercadas de muros e grades, além de abundante segurança privada, não faltaram solidariedade advindas de varias janelas de prédios mais simples e sacadas distantes dos espigões de cimento e vidro, onde se anunciavam o entusiasmo das mãos e bandeiras vermelhas a se agitarem em sintonia de vontades. Além da buzina de caminhões e carros que faziam coro a indignação das ruas em movimento. Essas manifestações agitavam os espíritos e impulsionava a certeza da alegria de lutar. As vozes se fortaleciam e as bandeiras tremulavam com mais vigor.

Quem caminhou nessa festa de resistência pacífica sentiu a força e a coragem de 20 mil corações pulsantes em defesa da democracia; onde conviviam velhos e crianças enlaçados na correnteza de uma juventude destemida.

Por isso, é lastimável e imperdoável a truculência da polícia militar, do ronda do quarteirão e do raio, em promover uma violência injustificável contra o direito sagrado da manifestação democrática. Num ato de covardia, atacando após dispersa a mobilização, pequenos grupos que relaxavam após a caminhada, com ataques indiscriminados de balas de borrachas, spray de pimenta e violência física.

É uma vergonha que em um governo do PT ocorra cenas tão bizarras. Também é certo a existência de um comando que atiça a repressão e tenta provocar o tumulto na busca de intimidar as manifestações que tendem a se ampliar em todo o país.

As ruas tornaram-se no último refúgio da defesa democrática e do combate ao retrocesso dos direitos sociais e trabalhista no país.

Portanto, a única coisa que cabe ao governador do Ceará é punir os abusos e excessos de sua polícia, antes de ver, além do esvaziamento de sua credibilidade pública, com a ampliação de sua rejeição popular, também evaporado os resquícios de sua autoridade diante das forças policiais.





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