quinta-feira, 26 de maio de 2011

Um bom Jantar



No dia 24 de maio, recebemos a comitiva da Liga da Juventude Comunista, vinculada ao Partido Comunista Chinês, e o Ministro da Juventude do governo daquele país, em visita ao Brasil e em sua primeira estada no Distrito Federal. Éramos os cicerones, porém pela peculiaridade da cultura e da língua, tão distinta da nossa, foi necessário o acompanhamento, em todas as atividades, de Jia Yao, atual Adido Civil da embaixada, intérprete e uma figura muito simpática que nos auxiliou durante toda a visita. Na agenda constava um jantar no dia 24, no dia posterior, 25, quarta-feira, uma visita ao Instituto Confúcio do Centro de Excelência em Turismo da UNB, um debate com estudantes no auditório da Reitoria e uma visita ao Reitor José Geraldo de Souza Jr, da Universidade de Brasília, além de outras agendas que se seguiam em parceria com a Liga Comunista e o Partido dos Trabalhadores durante a mesma tarde do dia 25 e noite. Porém, achamos muito importante e edificante nos atermos ao jantar do dia 24, no restaurante do Hotel Bonaparte.

O que nos chamou maior atenção no início da conversa eram os números desproporcionais referentes à população chinesa e suas províncias. É impossível imaginar essa realidade, para todos terem a dimensão deste fato: a nossa capital sofre com a superpopulação e estamos hoje em uma realidade de 2 milhões de moradores. Em uma província chinesa, cuja gestora da política de juventude estava conosco no jantar, tem uma população estimada em 32 milhões de habitantes. Como era de se esperar, levando em total consideração a desproporção em números populacionais, o início de todo este jantar girou em torno de números, dados estatísticos e impressões. Exemplo disso, a maior dúvida do Ministro era saber o tamanho de cada estrutura de juventude como um todo, desde a partidária até a de governo. Em total contrapartida, nossa maior dúvida e questionamento era a respeito dos desafios dessa juventude, desta nação em êxodo e as dificuldades impostas. As respostas foram dadas e aos poucos fomos entendendo a realidade social e política de cada país, o papel e a importância da temática de juventude para os Estados e Partidos. Não é novidade para ninguém a importância que o Partido dos Trabalhadores destina ao debate de Juventude. Vivemos em um momento único onde o Bônus Demográfico é realidade na conjuntura etária do país e isso é reconhecido pelas instâncias, porém, isso tudo não chegou a vislumbrar em nenhum momento a representatividade e o significado dessa temática para a China.

O que pareceu mais claro em todas as impressões foi a instância real de renovação do partido, a consolidação desse processo, o objetivo de consolidar as propostas de juventude em torno do acesso social e coletivo do país. Quando as respostas foram aparecendo, ficou claro o papel do jovem na China, inclusive pelos sinais que já se avizinham sob a figura simpática e carismática do jovem Ministro Lu Hao, que ocupa exatamente o mesmo cargo que um dia foi ocupado por Hu Jintao, atual Presidente da China. O jovem Lu Hao tem sido cotado e preparado para ocupar a mesma função, hoje, de seu Chefe de Estado. Podemos julgar e questionar esse procedimento do partido chinês e do próprio governo, dar margem a qualquer interpretação, porém, de fato concreto, temos que admitir: a China e o Partido Comunista, em se tratando de política de juventude, estão a anos-luz de nós. Respeitando as diferenças culturais - que são gigantescas - e os costumes de cada povo, somos diferentes em vários aspectos, mas devemos tirar como aprendizado e proveito todas as experiências de juventude que vivenciamos.

No Brasil, na China ou em qualquer lugar do mundo, o jovem não é um sujeito separado ou desconectado da vida social de suas nações, mas sim, um meio de transformação social, ferramenta real para o desenvolvimento de qualquer país e porta de entrada para as mudanças necessárias para qualquer estrutura social, econômica, política, cultural ou qualquer outra. Como utilizar ou usufruir desta ferramenta permitindo que este jovem seja participante não apenas em número; protagonista de suas escolhas e não somente dado estatístico? A China nos demonstrou em um jantar simples que investir em uma política real de juventude transforma um povo e uma nação, dando a ela condições de liderar rumos mundiais de uma nova ordem.

Fernando Neto, Secretário de Estado da Juventude do GDF
Valdemir Pascoal, Secretário Nacional de Juventude do PT

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Santuário dos Pajés

Galera, neste pouco tempo de secretaria já vivi muita coisa interessante. Vou relatar todas, mas, a experiência deste final de semana eu preciso dividir com todos o quanto antes. Fui convidado para participar de uma cerimônia indígena em celebração do milho, lá no Santuário dos Pajés. De início, só dessa área ser no meio do polêmico noroeste, já é um fato interessante, e além disso, ter presenciado o que eu vi e aprendi lá, me deixou muito mais intrigado ainda. O choque visual é constrangedor. Entrar naquele setor que se tornou o atual canteiro de obras mais caro do país e, em poucos segundos estar dentro de uma reserva indígena, dá a qualquer pessoa uma sensação de apreensão. Não sei bem se este é o termo certo, porém, de um lado estão os canteiros, buracos, tratores, trabalhadores, vias largas, poeira, construções incríveis, vendedores e de outro lado está uma estrada única que só passa um carro e é exatamente o único caminho de ida e de volta, cercado de vegetação real do cerrado, preservada, verde e sinais nítidos de confronto na mata.

Neste dia 14 de maio de 2011, sábado, eu pude presenciar uma pequena porção da história. Pude presenciar o canto da tribo, a dança, o lugar como um todo, e cada sentido, a pintura da pele, o artesanato e o bom trato e a relação que eles têm com a natureza, tudo isso foi muito lindo, principalmente a parte da música. Porém, uma das coisas que mais me chamou atenção foi a quebra de um paradigma, e tenho que confessar: esta cena ainda não saiu da minha mente! Vou tentar retransmitir em letras o que foi tão impactante. Estávamos em uma tenda, elevada por oito pontos laterais, coberta de muita palha e uma grande lona que protegia da chuva. O espaço era aberto, sem paredes, e na entrada várias sinalizações e quadros da FUNAI, do Governo Federal, do Ministério da Justiça, além de quadros confeccionados pelos próprios índios. As pessoas que vinham chegando se assentavam em torno de uma fogueira, com fogo brando quase apagado. O cheiro de fumaça e de terra se misturavam. Meu amigo Auamirin era o cicerone, e ele nos informava sobre a guerra que era travada entre as famílias que vivem no Santuário dos Pajés e as construtoras que estão no Noroeste dia e noite sem parar. Todo mundo que chegava acomodava-se em um tronco deitado no chão, como um sofá, e prestava bastante atenção ao que Auamirin falava.

Quando Auamirin terminou de falar sobre o conflito, começou um discurso quase que como uma pregação sobre o cuidado com a natureza, o meio ambiente, as formas de preservação e a nossa motivação para vivermos uma vida melhor, com qualidade, poder retirar da natureza o que ela realmente pode oferecer sem riscos. Auamirin também falou sobre o lixo, o respeito ao próximo, o cuidado com as vidas, o direito da terra, dos povos, sobre reconstruir valores perdidos na sociedade e durante toda aquela palestra brilhante eu parei para prestar atenção ao que estava acontecendo em minha volta: vários homens e mulheres que tiveram em seus antepassados catequizadores, doutrinadores, caçadores de índios prestando total atenção em um índio que ministrava uma palestra sobre cidadania, naquele momento, os papeis se inverteram, e o índio ensinava e doutrinava o “branco”, e o “branco”, neste exato momento, era o selvagem que precisava entender sobre cidadania.