domingo, 29 de dezembro de 2013

#AltoFalante

Meu lindão, quantas saudades você deixará, escrevo essa carta como uma homenagem ou simplesmente um registro do que sinto e do seu significado e importância em minha vida. Antes de elencar memórias salientando o óbvio, deixo registrado um pensamento inocente, imaginei verdadeiramente que o teria perto por toda vida, sempre soube de suas fragilidades, mas, inconscientemente acredito que anulei qualquer possibilidade de não encontra-lo em qualquer circunstância de família ou uma visita corriqueira, no imaginário que construí você sempre estaria lá e estará certamente, vivo em nossas lembranças guardado sempre com tanto carinho e zelo por cada um de nossa família, as marcas que você deixou em nós, sem querer marcar ou compreender o sentido deste gesto ficarão como uma tatuagem registrada na pele.

Desde que nasci e desenhei os primeiros passos e frases você já estava presente, meninos inocentes, adolescentes desconexos da realidade cresci tendo você sempre tão presente horas próximos e em outros momentos nem tanto, foi fácil perceber com o tempo que um de nós mesmo com a idade não crescia como todos os outros primos, continuava um eterno meninão, era especial, diferente mesmo sendo igual, para nós crianças a inocência do convívio manifesta o costume da vida, aprendi sozinho e as vezes em alerta dos mais velhos a separar o seu lugar, te respeitar em seu espaço e seu mundo, esse mundo mágico que muitas vezes busquei compreender e isso era muito mais fácil quando ainda não existiam responsabilidades, necessidades, dificuldades, com os anos, entrar no seu mundo ficou mais distante, porém, nunca, jamais deixei de compreender que o seu, era o mundo que deveríamos respeitar e o nosso, era o mundo que deveria se adaptar e era fácil construir esta relação cognitiva, era só ouvir e atender aos seus sinais, quando era para falar ou quando era hora de parar ou simplesmente calar, sua forma repetida de falar da vida não era mais que um sinal próprio e peculiar do que lhe marcava, todos os seus registros eram encantadores, eu mesmo provocava a repetição em horas para demonstrar à vida o que era importante viver, conviver.

Minha tia algumas vezes me relembrava de estripulias de crianças que incluíamos você como se fosse simplesmente um de nós, não era tão simples assim e era assim que assistimos você, tão especial, complexo e simples ao mesmo tempo, o cuidado que era necessário para te deixar bem, foi o acompanhando o observando e todos em sua volta que construí heróis, personagens pessoais. Você é reflexo de tanta coisa em minha vida e eu nunca verbalizei ou declarei isso de qualquer forma, sempre foi um registro só meu e vou agradecer ao Pai e a você eternamente por tudo que aprendi e acumulei com sua vida. Não tenho outra forma de dispensar a timidez ou a condição encabulada de clarear meus pensamentos do que aproveitando o momento o acaso e relatando em escrito o que guardei nestes trinta anos de vida, nos quais os últimos 5 anos guardei para reflexões pessoais e em todas elas o seu registro era tácito em meus pensamento, esta data ficará intimamente registrada em minha vida como um testemunho, o dia 26 de dezembro de 2013, foi claramente o perfeito dia em que o céu entrou em período de festas, impossível não perceber a alegria de Deus ao receber de volta em seus braços seu maior professor dos últimos 32 anos lecionando sobre o amor, respeito, carinho, simplicidade e grandeza e é assim que o vejo, mesmo sendo para todos nós uma criança.

Engraçado como depois de uma semana larga e chuvosa, com o tempo sempre restrito à tempestades e o frio rasgado pelo vento, nesta quinta feira, amanheceu clara, leve, ensolarada, com nuvens bem formadas e aquele azul incomum do céu de Brasília, traçado pelo arquiteto, perfeccionista, como Djavan descrevera. A alegria era tanta que daqui debaixo eu conseguia ouvir as trombetas ressoantes, era só fechar os olhos que o som harmonioso refletia no coração, na alma. Poucos conhecem da minha relação com Deus, minha busca constante em compreende-lo, ouvi-lo, senti-lo, e foi sempre em detalhes da vida, nas vírgulas e entrelinhas que busquei maior intimidade e relacionamento com ele, queria como Elias, Moisés, Abraão, Noé ouvir a voz clara e audível de Deus e compreendi de alguma forma que era possível observando as cores que distinguem árvores, flores, plantas, nos desenhos dos rios, o movimento das águas do mar, na diversidade da vida, são detalhes que me prendem a atenção e neles encontro Deus, mas, nunca fez tanto sentido Deus, a palavra, o evangelho quanto nesses últimos meses, Tio Sérgio sem saber confirmou em nosso último encontro exatamente o que eu estava à encontrar ou reencontrar, o significado deste relacionamento, e quero te agradecer, pois sempre esteve tão perto a minha busca, era você meu primo, meu irmão, meu professor, a resposta simples e complexa. Você me ensinou a conhecer mais do que qualquer outro quem eu declaro amar, me entregou a razão de seguir e prosseguir neste amor. Você é Marcinho a personificação do amor de Deus, você é a pintura mais clara dentre todas as obras de Deus que o descrevem em sua própria arte, Papai do Céu escolheu descrever o amor e o que é amar através de sua vida e eu quero agradecer a vocês dois, por terem me dado a honra de crescer com você, mesmo hoje entendendo que o único que cresceu foi você e nenhum outro de nós esta perto de alcançar você em amor, mas tenha certeza, se tornará uma meta.

Obrigado por tudo, eu simplesmente te amo. 

sábado, 7 de dezembro de 2013

Sábado, 30 de novembro de 2013.

O tempo relativo da vida muda conforme nossas experiências e sensações do dia, o prazer ou desanimo refletem em nossa percepção de velocidade do próprio tempo. O tempo real da vida é estático, imutável, cronometrado e não se altera com o clima, sensação ou qualquer acontecimento. A idéia do dia passar rápido ou o próprio tempo demorar a passar, mesmo os segundos e minutos serem os mesmos, vem da nossa dinâmica de sentimentos construídos ao decorrer do dia. 
Este pensamento é reflexo de uma experiência simples, que trouxe à tona "necessidades", a junção de acontecimentos, sensações e sentimentos provocados por um ato, caminhar na chuva! Observar as primeiras gotas caindo nas flores, árvores, grama e ao chão, aves buscando abrigo pelo caminho vazio e sem obstáculos, conforme o clima altera o percurso do ambiente é possível perceber também mudança no cheiro, conforme as gotas aumentam, se fecharmos os olhos é provável resgatarmos lembranças deste cheiro da chuva na grama que se molha, da árvore que intensifica seu aroma, na terra, neste momento já possível sentir o gosto, a água do céu limpando o caminho, molhando o rosto, o cabelo, a roupa, com a chuva mais grossa qualquer um fecha os olhos e abre a boca. De repente crianças correndo, descalças, apostando quem chega primeiro em um lugar pra se esconder da chuva, mesmo todos molhados e sentindo a graça da chuva, este momento descreve qualquer cena, seja de um filme ou lembranças do passado recente ou longínquo. A chuva em si é água que cai do céu com explicações cientificas definidas, todo o contexto é que trás sensações, sentimentos e reflexão, observar a simplicidade da chuva carregada de cheiro, gosto, sons explica todo o resto. No final de tudo ainda molhado, ainda chovendo percebi que estava cego, surdo e sem condições de sentir o verdadeiro gosto das coisas e a água que caia do céu me lavou, me limpou, me fez ver e ouvir, me encontrei novamente no lugar aonde sou mais feliz, obrigado Pai! Eu te amo.