segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Para o procurador Deltan Dallagnol ficar sabendo

Por Cartaxo de Arruda Jr, Diretor do MOVA SE e
Fátima de Deus, Professora, Ativista. Integrantes do NDD



Senhor Procurador andei lendo que você disse: “Quem veio de Portugal para o Brasil foram bandidos e criminosos...” Menos meu caro deixe de ser coxinha a esse ponto, seu complexo de vira lata esta virando síndrome e lhe deixando cego. Quem veio de Portugal para o Brasil meu lord foi “a fina flor do abacateirol”, a nata da nobreza de sangue azul de toda a Europa que se refugiou em Portugal fugindo de Napoleão veio parar no Brasil, assim Napoleão pode dizer: “Eu sou a Europa”, isso sim, nada de bandidos criminosos. Como você se deixa enganar pelos invejosos americanos!?

A requintada nobreza europeia veio parar no Brasil e fizeram aqui o maior e único Império do Novo Mundo enquanto o seu querido EUA não passavam de meras treze colônias. O Brasil se transformava na segunda maior frota naval do mundo e na quarta maior economia do planeta e mais, fomos nos que sustentamos a Inglaterra na guerra contra Napoleão e se for prestar atenção você vai ficar sabendo que o ouro e as pedras preciosas da coroa inglesa foram surrupiados das nossas Minas Gerais.

              E digo mais, fique sabendo que o ministro Guido Mantega, que você tirou da sala de operação da sua esposa para prender, pagou os 40 bilhões de dólares que devíamos ao FMI transformando o Brasil de devedor em credor do Fundo, além de acumular mais de 370 bilhões de dólares em reservas financeiras nos fundos internacionais reservas estas que só  perdem para as da China e com 3 vezes mais reservas que os EUA transformando o Brasil da 17ª para a quinta maior potencia econômica mundial. Além de contribuir para tirar 40 milhões de brasileiros da miséria nos governos Lula e Dilma. 

Esse Golpe não vai se manter e como disse Darcy Ribeiro “Eu não quero estar no lugar dos que nos venceram”. Estamos nas ruas e o usurpador Temer já não consegue assistir o Wood Allen em Nova York sem ouvir o Fora Temer. Não consegue sair de casa, nem dos palácios. Vamos defender os BRICS, um Banco dos países do terceiro mundo melhor que o FMI, manteremos o MERCOSUL e o Brasil será o pais do futuro. 

              A farsa que você encerra não vai perdurar por muito tempo não seu entreguista mequetrefe. 

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

O Prêmio do Golpe por Chico Castro




Em 1897, Sigmund Freud já trabalhava exaustivamente sobre o horror do incesto. À época, suas preocupações se voltavam para o binômio existente entre os avanços da civilização e a repressão dos instintos. Bem mais tarde, em 1912/1913, publicava um monumental ensaio intitulado Totem e Tabu. Na realidade, o pai da Psicanálise, para além do vasto conhecimento que possuía da alma humana, era igualmente versado em pré-história e em Arqueologia Social. Viciado em cocaína, morreu em Londres, de câncer no palato, em 1939, aos 83 anos de idade. Como psicanalista, ele era um grande escritor.

Em Totem e Tabu, influenciado por Wilhelm Wundt e  Carl Gustav Jung, Freud  analisou as categorias o universo antropológico de saberes antigos, passando pela história dos povos aborígenes da Austrália, da América e da África. Ao estudar esses povos, pôde perceber a existência de uma relação extremamente respeitosa entre o clã e  o totemismo, pois os membros de certas tribos acreditavam que a origem deles residia na figura do totem. Para além dos casos clínicos, não desprezava a  cultura dos povos mais “atrasados” do mundo, a ponto de procurar entendê-los    a fim de captar psicanaliticamente a angústia e o mal-estar das sociedades mais industrialmente avançadas do seu tempo.

Mas, o que  é um totem?
Originalmente, o totemismo era a religião das castas  primitivas. Mantinha viva a base da organização social. O totem podia ser  um animal, um vegetal ou um fenômeno natural, materialmente representado. Visto como um símbolo sagrado, criava  uma relação de medo ou respeito aos que o cultuavam. Ao mesmo tempo em que o sistema totêmico dava proteção ao corpo social, exigia  que algumas restrições fossem fielmente cumpridas, como, por exemplo, a não permissão de relações sexuais impróprias ou casamentos entre integrantes do mesmo clã. No Deuterenômio, livro escrito por Moisés (cap.7,3-4),  Deus proibia que um hebreu se casasse com uma mulher “estrangeira”. Os semitas praticavam a endogamia, cerimônias de casamento entre pessoas aparentadas, ao passo que os nativos estudados por Freud prevalecia a exogamia.

Os aborígenes anteriores aos semitas, criaram a exogamia justamente para não abalar o equilíbrio social exigido pelos preceitos totêmicas, aliás, ainda vigorantes nos dias de hoje, que admite, em tese, apenas o casamento entre pessoas de “famílias diferentes”. Descumprir a regra  resultava na morte automática do infrator ou infratores. Daí o horror pelo incesto, a priori, vigente na mentalidade do século XXI. Os judeus, mais tribais, achavam que o filho ou a filha deveriam ficar sob a proteção da sombra paterna. No entanto, a prescrição levítica não obstou que Salomão, filho do rei Davi,se casasse com a filha do faraó do Egito, tradicional inimigo de Israel. Por sua vez, as filhas de Ló, após a saída de Sodoma e Gomorra, o embriagarem com vinho e mantiveram relações sexuais com o próprio pai, nascendo-lhes a etnia moabita e amonita (Gênesis,cap.19,32).

Qual o significado de um tabu?
Por detrás de qualquer totem havia um tabu ou vários tabus. O totem não pode ser tocado, nem o tabu pode ser quebrado. Mas o que é um tabu?  Via de regra, é uma série de normas  acerca do que se pode ou não ser feito. Freud entendia ser desconhecida a origem do tabu, e que, enquanto para alguns parece ser algo sagrado ou impuro, violento ou natural, sádico ou santo, para outros se insere dentro  de um esquema da mais pura normalidade. Ao contrário das leis de Deus dada a Moisés no Sinai, o  tabu não encontra guarida na escrita. A interdição servia para proteger os fracos e os fortes, os chefes e os sacerdotes, as mulheres e as crianças, à medida que pede acautelamento contra o manuseio de cadáveres, a ingestão de certos alimentos e bebidas. A quebra de um tabu forjou o nascimento dos primeiros tribunais da história.

Achamos que os selvagens eram mortais e cruéis com os seus inimigos. Porém, somos atualmente mais sentenciosos e perversos  com os nossos rivais. Freud verificou que na ilha de Timor, na Indonésia, quando  guerreiros voltavam vitoriosos de uma batalha, traziam as cabeças dos vencidos à mostra. Porém, ao chegarem à tribo, se submetiam a alguns rituais de purificação para amenizar o sofrimento pela alma dos  derrotados. Segundo o costume, a dança e o canto não eram a comemoração da presumida vitória, mas um rito de perdão pela morte dos infelizes: “Não tenhais raiva”, pranteavam os vencedores, “porque vossa cabeça está aqui conosco; se tivéssemos tido menos sorte, nossas cabeças poderiam estar agora expostas em vossa aldeia. Não seria melhor que tivéssemos permanecido amigos”? 

O tabu relacionado aos governantes era bem mais severo. Eles não deveriam ser apenas “protegidos, mas também se deve proteger-se contra eles”. O contato direto com os mandatários podia ser benéfico ou maléfico. O poder de cura se manifestava num leve toque no doente ou no necessitado de cuidados. Mas, em muitos casos, poderia acontecer uma tragédia, como por exemplo, entre algumas tribos africanas, entrar alguém na casa de um sacerdote, poderia ocasionar grandes aflições ou até mesmo a morte a quem chegasse à  porta da casa da autoridade. Freud dá outro exemplo do escravo neozelandês. Ao comer um resto de comida deixada por um nobre, teve terríveis convulsões estomacais até morrer, após a ingestão do alimento real.

O conflagrado e explosivo momento político brasileiro seria um prato cheio para as análises de Freud. É o caso de Eduardo Cunha. Ele deveria exercer o papel de um totem, em termos freudianos, para os 513 deputados federais, pelo menos na aparência. Se o detentor do poder religioso ou político não atendia mais às necessidades básicas da comunidade, os integrantes se revoltam contra o totem, para salvar da destruição a base social milenarmente construída por todos. Quando o ex-deputado afirmou que os seus inimigos queriam a cabeça dele exibida como um troféu, repetiu-se simbolicamente a mesma ação feita por selvagens vitoriosos vindo da guerra exibindo o crânio dos vencidos. Se fosse mais sutilmente inteligente para perceber do que para roubar, Cunha deveria saber que as leis totêmicas ainda estão em pleno vigor.

Eduardo Cunha violou a autoridade e o respeito que o totem não pode perder. A punição severa foi o retumbante tombo visto por toda tribo. A consequente morte política corresponde à falta de proteção que o ex-parlamentar não deu a todo o grupo tribal, no caso a Câmara dos Deputados. Ele tinha o dever de preservar algumas normas para proteger a Casa dos perigos que poderiam advir da sua derrocada, caso fosse comprovada a falta de medo e temor que  o totemismo requere dos membros de um clã. Sem o totem, o clã deixa de existir. Então, entre o  totem corrompido que põe em risco a existência de todo o agrupamento e a tradição milenar cultivada há séculos, a saída mais plausível para evitar o malogro é derrubá-lo a fim de colocar  um novo totem no vazio deixado pela obsolescência do outro.

Suscitados pelo deleite particular do cult e do selfie, vivemos cercados de totens e tabus por todos os lados. Os povos antigos estudados pelo criador da Psicanálise, ao trazerem a cabeça dos vencidos na ponta de suas lanças, entoavam lamentos em favor das almas dos mortos. Alguns rituais de purificação eram feitos nos matadores, sem os quais, não lhes seriam permitido voltar ao convívio da tribo vitoriosa. Afortunadamente, Freud chamava isso de ritual de apaziguamento. Seria muito estranho para os nossos olhos modernos, se todos os inimigos de Eduardo Cunha fossem vistos na TV chorando a morte súbita do político que há pouco tempo era o segundo homem mais importante da República. Somos mais bárbaros que os primitivos aborígenes australianos.

Chico Castro, 62, é poeta e historiador. 

domingo, 18 de setembro de 2016

Eleições municipais 2016: Rio de Janeiro

Oportunismo à esquerda impede o Rio de Janeiro viver novos ares. PSOL quebra acordo e Freixo se sente paladino de uma revolução que não existe, Molon descobre a duras penas que seu legado só existiu enquanto existia dentro do PT e Jandira só chama atenção quando ataca Pedro Paulo e Flavio Bolsonaro. Nenhuma das candidaturas apresenta uma plataforma real com propostas avançadas para a cidade, ou vivem uma prospecção da Disney em uma aventura de Petter Pan ou propõem o mesmo que todos, ninguém se diferencia essencialmente. A expectativa é torcer para uma mudança de comportamento do eleitorado que compreenda o momento político e assuma a responsabilidade das mudanças cariocas, pois, depender do que se apresenta é aflitivo para a população! 

sábado, 10 de setembro de 2016

A VIOLÊNCIA POLICIAL É UM CRIME. NÃO PODE FICAR IMPUNE. Por Fernando André Arruda



Por Fernando André Arruda, sociólogo.

As ruas ganham um novo colorido social na resistência democrática. Há uma fermentação natural envolvendo esse novo cenário político, misturando gerações, classes e raças, sem hegemonias de partidos tradicionais e dominâncias de comando político identificável.

Talvez esse caráter inusitado da mobilização social anuncie uma relativa autonomização dos movimentos sociais, movida mais por desejos horizontalizados do que pelos velhos comandos verticais. Essa aparente espontaneidade, unida pela vontade do "Fora Temer", tem como agenda a defesa da democracia através de novas eleições. Essa chave é suficiente para ascensão de um amplo movimento de mobilização social, capaz de abalar a tranquilidade da elite golpista.

O protesto de Sete de Setembro na orla da praia de Fortaleza foi marcado por uma irreverência alegre e pacífica. Na caminhada pelas ruas do bairro nobre da cidade, ornamentadas por prédios de opulência luxuosa, os manifestantes eram desafiados, em diversos momentos, por agressões verbais, cartazes e bandeiras remanescentes do movimento "Fora Dilma". As provocações animavam as chamas de resistência, fazendo ecoar as palavras de ordem " Fora Temer", "Fascistas, não passarão", sem nunca descambar para atos de violência física ou qualquer atitude de depredação dos bens públicos ou privados. E isso porque no percurso da caminhada existiam lojas de bancos e revendedoras de carros, símbolos frequentes onde se despejam as iras dos indignados.

Existia forte era o destemor na defesa da democracia, estampados no rostos pintados de uma juventude de estudantes, das classes médias e periféricas, que inundavam as avenidas desertas de carros. Em todo o trajeto inexistia qualquer policiamento, nem militar e nem de trânsito, sendo os próprios caminhantes que sinalizavam a interrupção das vias, sem necessidade de conter qualquer impulso de vandalismo, já que inexistente.

Enquanto existia as provocações de alguns moradores do bairro nobre, destilando o seu ódio das janelas e sacadas dos seus prédios, verdadeiras fortalezas medievais, cercadas de muros e grades, além de abundante segurança privada, não faltaram solidariedade advindas de varias janelas de prédios mais simples e sacadas distantes dos espigões de cimento e vidro, onde se anunciavam o entusiasmo das mãos e bandeiras vermelhas a se agitarem em sintonia de vontades. Além da buzina de caminhões e carros que faziam coro a indignação das ruas em movimento. Essas manifestações agitavam os espíritos e impulsionava a certeza da alegria de lutar. As vozes se fortaleciam e as bandeiras tremulavam com mais vigor.

Quem caminhou nessa festa de resistência pacífica sentiu a força e a coragem de 20 mil corações pulsantes em defesa da democracia; onde conviviam velhos e crianças enlaçados na correnteza de uma juventude destemida.

Por isso, é lastimável e imperdoável a truculência da polícia militar, do ronda do quarteirão e do raio, em promover uma violência injustificável contra o direito sagrado da manifestação democrática. Num ato de covardia, atacando após dispersa a mobilização, pequenos grupos que relaxavam após a caminhada, com ataques indiscriminados de balas de borrachas, spray de pimenta e violência física.

É uma vergonha que em um governo do PT ocorra cenas tão bizarras. Também é certo a existência de um comando que atiça a repressão e tenta provocar o tumulto na busca de intimidar as manifestações que tendem a se ampliar em todo o país.

As ruas tornaram-se no último refúgio da defesa democrática e do combate ao retrocesso dos direitos sociais e trabalhista no país.

Portanto, a única coisa que cabe ao governador do Ceará é punir os abusos e excessos de sua polícia, antes de ver, além do esvaziamento de sua credibilidade pública, com a ampliação de sua rejeição popular, também evaporado os resquícios de sua autoridade diante das forças policiais.





sexta-feira, 9 de setembro de 2016

O TEATRO DO IMPEACHMENT por Chico Castro





Na defesa que fez bravamente do seu mandato na tribuna do Senado, Dilma Rousseff citou um fato histórico ocorrido na França no século XIX e que entrou para a  história como o 18 Brumário de Luís Napoleão. Trata-se de um golpe de Estado [implantação do estado de sítio] dado pelo sobrinho do Napoleão Bonaparte em dezembro de 1851. O vigarista e aventureiro havia sido o primeiro presidente republicano eleito pelo voto direto depois dos episódios de 1848. Em 1852, derruba finalmente a república para fundar o Segundo Império.  A primeira república fora proclamada em 1792 pelo povo em decorrência da queda da monarquia em 1789.

Luís Napoleão queria ficar mais tempo no poder para além das decisões anteriormente tomadas pela a Assembleia Nacional Constituinte. A Constituição republicana não admitia a reeleição presidencial. O pomo da discórdia foi o estopim para o golpe de Estado. A burguesia aliada a seus antigos adversários se juntaram convenientemente para impedir  os avanços que poderiam advir da segunda república recém-fundada. Satisfeita, as elites se acalmaram em face de que, daquele momento em diante, o descontentamento crescente do povo e dos fundadores da nova república, poderiam ser facilmente contornados  pela força das armas.

Nem de longe se pode comparar os acontecimentos de Paris com o impeachment de Dilma Rousseff. Mas em ambos os casos a patuscada foi geral. A ruptura jurídica chancelada pela elite conservadora francesa na pessoa de Luís Bonaparte, depois imperador Napoleão III, visava acabar com a possibilidade com uma governabilidade liderada por trabalhadores, republicanos e liberais. Já naquela época,  o tripé Liberdade, Igualdade e Fraternidade, dava claros sinais de que servia apenas como cortina de fumaça para esconder o sistema de opressão e de exclusão. Para a massa ativa dos trabalhadores se reservava apenas o pesado dever de “produzir ouro para os faraós para que se paguem as dívidas da família Bonaparte”. Qualquer semelhança com o destino funesto da plebe brasileira não é uma mera coincidência!

  Karl Marx, que na verdade era um profundo conhecedor da política do seu tempo, escreveu um ensaio  intitulado 18 Brumário de Luís Bonaparte, no qual, logo no início, apresenta  uma expressão posteriormente adotada pelos cientistas sociais. “Os fatos e os personagens de grande importância na história”, escrevia o filósofo alemão inspirado em Hegel, [aparecem] “pela primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”. Marx estava se referindo aos golpistas Napoleão Bonaparte, o corso, e ao sobrinho Luís Bonaparte. O autor de O Capital achava que a Revolução de 1789 tão decantada em prosa e verso como um estandarte de renovação na política,   substituíra, a grosso modo, o  feudalismo monárquico por uma república destinada a “instaurar a moderna sociedade burguesa”. Estava corretíssimo o famoso barbudo.

Pois por assim dizer, os dois regimes, diferentes na aparência, deixavam igualmente de lado, de forma aguda e soberana, as pretensões de inserção das classes populares nos rumos que a nação poderia tomar. Os que estavam alienados pelo brutal sistema da livre concorrência, pela exploração mais racionalizada da terra e pela potencialização predatória das forças produtivas, só restava assistir ao espetáculo  triunfante dos princípios básicos da  vitória da burguesia liberal, que se assentara sobre os ossos  guardados no armário do mundo rural onde se sustentava o sistema monárquico e conservador.

A contradição chegou a auge em 1848. À proporção que o progresso alcançado pela indústria crescia a olhos vistos, a situação dos trabalhadores se tornava a cada dia mais grave e conflitante, em função do fechamento de empresas, a acentuada queda do nível salarial e pelo desemprego galopante. A revolta popular seria inevitável. O sistema corria sério risco de sobrevivência com o povo  desfraldando a bandeira de suas mais legítimas aspirações . Nenhum poder suporta a ideia do povão ocupando as ruas. Para isso, veio a república para colocar panos quentes nos desmandos da monarquia restaurada.

A queda do rei Luís Felipe a 24 de fevereiro de 1848 significou a instalação da Assembleia Nacional Constituinte e do Governo Provisório. Neste se apossaram a burguesia republicana, os liberais  e uma parte dos trabalhadores socialistas. O escopo do novo projeto republicano  ia de encontro aos interesses da aristocracia financeira. Inicialmente, o sistema permitiu que “a parte do leão [os direitos sociais dos trabalhadores] fosse reconhecida pelo Governo”. Na monarquia,  o rei  governava em nome da aristocracia, enquanto que na república a burguesia “reinava” em nome do povo. Em ambos os casos, tanto na monarquia absoluta quanto na democracia exclusivista, os pobres ficaram no purgatório das grandes decisões.

O golpe de 02 de dezembro de 1851 foi perpetrado pelo trapaceiro Luis Bonaparte [para acabar com  baionetas pretorianas as liberdades individuais, políticas, religiosas e educacionais de 1848], se deu, ainda de acordo  com Marx, para pôr fim  “às concessões liberais que lhe foram arrancadas[do povo] através de séculos de luta”. A  burguesia republicana fundou a segunda república para si, e não para atender aos interesses gerais da sociedade. Mas, para que a diabólica trama fosse aplicada era preciso retirar da cena política o proletariado descontente. Logo, e sem nenhum pejo,  a burguesia, aliada novamente aos antigos latifundiários monarquistas,  desembainhou a espada para fulminar o ensaio  republicano de inclusão social.

 A  imposição do golpe de Estado  engendrado pelo próprio governante no exercício do poder  dava largos passos para trás, anulando o ponto inicial onde se firmara os primeiros instantes de uma sociedade mais liberal sonhada pelos carbonários de 1789. Marx não entendia como uma nação com 36 milhões de habitantes pudesse voltar ao “cativeiro por três cavalheiros da indústria.” Isso demonstrava claramente que em pleno século XIX o poder de convencimento da imprensa já era dominado por interesses corporativistas.

No nosso caso, uma sociedade ambivalente e pantanosa, marcada por uma oceânica concentração de riquezas, a política cercou-se ainda pelo muro da mais escandalosa insensibilidade moral. O pacto social transformou a realidade em ficção e a ficção em realidade. O reflexo disso, é que poucos se incomodam com o destino dos outros. A perda da privacidade transformou as pessoas em mercadorias ambulantes, e a cultura pré-fabricada do medo está levando todo mundo a não acreditar mais em ninguém. No estado democrático de direito são os cidadãos e cidadãs que controlam os que estão no poder, e não o contrário. Não é o voto que simplesmente legitima o vitorioso numa eleição. É o respeito à democracia que dá a amplitude e ratifica o voto.

Se foi golpe ou não, mormente ser no Brasil a interpretação mais importante do que a lei, tanto partindo da acusação quanto da defesa, ficou notória a incapacidade da política em resolver as crises, senão inclinando-se para as circunstâncias absolutamente convenientes de cada período da história.  Nessas condições discricionárias, sempre foram abertas as portas para o surgimento de líderes medíocres e oportunistas para desempenharem o vergonhoso e triste papel de heróis e salvadores da pátria. Se são os seres humanos que fazem a história eles a fazem segundo a tradição deixada pelo passado. E no Brasil, assim como alhures, o passado sempre condenou a classe política.


Chico Castro, 62, é poeta e historiador.