sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Sobre o silêncio de Brasília – explicando porque a lei do silêncio mata a cultura musical


Sou músico profissional há 25 anos, tendo vivido 20 desses anos em Brasília. Pela minha trajetória musical, posso dizer que tenho propriedade para falar sobre esse assunto.

Esses 25 anos de experiência me mostraram muito bem como se aprende música. Eu passei pelo que considero serem as três escolas que fazem um músico aprender a tocar. São elas: a banda de baile, a casa noturna e a escola de música formal.

Numa banda de baile o repertório é bem variado e o músico executa as músicas exatamente (ou quase exatamente) como são em suas versões originais. Em termos de aprendizado musical, o músico tem contato direto com vários estilos diferentes, treina sua percepção auditiva, sua constância de execução, sua memória, seu comportamento de palco,… Essa proposta de trabalho fornece muitas ferramentas musicais, porém a criação musical é um pouco limitada.

 Numa casa noturna, o contato com a música é semelhante ao da banda de baile, porém sem a característica de executar a música como sua versão original. Além do mesmo aprendizado que a banda de baile oferece, a casa noturna proporciona velocidade de raciocínio e compreensão estrutural da música (muitas vezes o músico toca a música sem conhecê-la, “adivinhando” o que vai acontecer) e maior espaço para criação. Acho esse último ponto o principal diferencial da “escola” casa noturna.

Na escola de música formal o músico tem contato com a literatura, a escrita, a estruturação musical estudada, harmonia, arranjo, improvisação, composição,…

Em qual desses três espaços realmente se aprende música? A primeira resposta que vem à cabeça é a escola de música formal, mas a resposta correta é a escola “tocando”. O aprendizado musical se dá principalmente no ato de executar a música, que é feito nos três ambientes. Mas posso dizer claramente que uma escola de música formal não é o ambiente ideal para aprender. Explico.

Os educadores musicais modernos são categóricos em afirmar que o aprendizado se dá pelo envolvimento musical direto, ou seja, audição, execução e composição. Aprendemos muitas coisas numa escola de música, porém a quantidade de prática musical que o aluno tem ainda não é suficiente para o seu pleno desenvolvimento. Um músico popular, por exemplo, além das aulas teóricas, terá sua aula de instrumento e no máximo dois encontros de prática de conjunto. Isso é muito bom, mas ainda é pouco.

As outras duas escolas é que darão a compreensão concreta do fazer musical. Dentre elas, o espaço mais privilegiado é a casa noturna, tanto pela maior quantidade de espaços disponíveis, quanto pela maior possibilidade de expressão pessoal dos músicos, seja em músicas de outros compositores, seja em trabalhos autorais. A casa noturna é um ambiente propício para a criação musical.


A partir do momento que uma cidade silencia os bares, mata a sua cultura musical. Retira a possibilidade daquele músico promissor se desenvolver e tornar-se um artista de alcance regional ou nacional. Retira a possibilidade da cidade criar sua própria cultura musical, já que não se produz música que caracterize a população.

Retira a possibilidade da cidade tornar-se um centro cultural, uma metrópole que cada vez atrai mais gente qualificada para compor sua cara. Retira a possibilidade de criar uma cadeia produtiva autossustentável, onde o artista possa viver e trabalhar na cidade de forma digna.

Uma cidade sem cultura musical é uma cidade só de concreto. Não é uma cidade de pessoas. É uma cidade que se acha centro, mas não tem tanta coisa para mostrar. É uma cidade que se acha independente, mas fica à mercê do que vem de fora. É uma cidade que se acha conhecedora de cultura, mas não tem a capacidade de perceber a qualidade musical superior de muitos de seus artistas. É uma cidade que acha que tem identidade, mas não tem ideia de que a identidade da cidade é feita pelos seus moradores que fazem arte. É uma cidade que se acha rica culturalmente, mas o resto do país só fala de artistas de 10, 20, 30 anos atrás. É uma cidade que cria artistas, mas eles se vão, pois precisam de espaço para mostrar sua arte. É uma cidade que tem orgulho de seus artistas, mas só dos que não moram mais lá.

Como consequência a cidade cria:
Uma população sem identidade cultural
Uma população que vive à mercê do que lhe “empurram”
Uma geração de músicos que provavelmente não chegarão a seu potencial máximo
O êxodo cultural
Um lugar que só serve para dormir.

Você, indivíduo, que se acha no direito do silêncio, saiba que outros, população, têm direito à manifestação cultural. Viver em sociedade significa o coletivo sobrepujar o individual. Significa não ter alguns privilégios para que outras pessoas tenham espaço. Significa que o músico vai tocar mais baixo para não atrapalhar seu sono, mas você ouvirá um pouco do som da rua. Significa criar regras de convivência que equilibre os dois lados da moeda. Criar regras que permitam a cidade viver a cultura e você ter seu repouso.

Você imprensa, que tem seções inteiras sobre cultura, pode se manifestar a favor do equilíbrio entre essas duas posições e mostrar qual lado está sendo oprimido. Ou pode ficar calada, se preferir continuar valorizando só o que vem de fora.

Você, que foi eleito para gerir a cidade, saiba das consequência de suas ações nesse sentido. Saiba que fazer que não está vendo os seus órgãos agirem de forma opressora e a polícia agir de forma extremamente truculenta vai contribuir transformar a cidade em um museu musical. Você será responsável por manter a maior representatividade da música de Brasília apenas na década de 80.
Você, artista, saiba que tem que respeitar o direito dos que moram próximos ao local que você se apresenta. Saiba da sua responsabilidade em manter o volume de sua execução musical dentro dos limites acordados.

O jogo está claro. De um lado, indivíduos querendo silêncio absoluto, do outro artistas querendo manifestar sua arte. A entidade civil capaz de resolver esse impasse é inerte e incompetente para colocar uma legislação clara, moderna e objetiva, que atenda o que todos os agentes envolvidos pedem.

Enquanto isso, a população perde sua cultura, o artista perde seu espaço e pessoas dormem.
HP

 http://www.hamiltonpinheiro.com/blog/sobre-o-silencio-de-brasilia-explicando-porque-a-lei-do-silencio-mata-a-cultura-musical/

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

O Trono do Estudar


                                                                                                                                                             
O Trono de estudar

Ninguém tira o trono do estudar
Ninguém é o dono do que a vida dá
E nem me colocando numa jaula
Porque sala de aula
Essa jaula vai virar
A vida deu os muitos anos de estrutura do humano à procura do que Deus não respondeu
Deu a história, a ciência, a arquitetura, deu a arte e deu a cura e a cultura pra quem leu
Depois de tudo até chegar neste momento me negar conhecimento é me negar o que é meu
Não venha agora fazer furo em meu futuro, me trancar num quarto escuro e fingir que me esqueceu
Vocês vão ter que acostumar porque
Ninguém tira o trono do estudar 

Ninguém é o dono do que a vida dá
E nem me colocando numa jaula 

Porque sala de aula
Essa jaula vai virar
E tem que honrar e se orgulhar do trono mesmo e perder o sono mesmo para lutar pelo que é seu
Que neste trono todo ser humano é rei seja preto, branco, gay, rico, pobre, santo, ateu
Pra ter escolha tem que ter escola ninguém quer escola, isto ninguém pode negar
Nem a lei, nem estado, nem turista, nem palácio, nem artista, nem polícia militar
Vocês vão ter que me engolir, se entregar
Porque ninguém tira o trono do estudar


 http://www.brasilpost.com.br/2015/12/22/chico-buarque-musica-ocupucoes-escolas_n_8864036.html
                                         

sábado, 19 de dezembro de 2015

A Crise Econômica e o Sacrifício dos Servidores Públicos


A valorização dos servidores públicos não faz parte da receita administrativa do Estado do Ceará. Ninguém desconhece os impactos da crise econômica e das turbulências políticas que se abatem sobre o nosso país.

Um fato que tem agravado as nossas históricas desigualdades sociais é a tentativa inútil e irracional da administração pública em penalizar os servidores públicos, submetidos a uma inflação ascendente e sufocados por perdas nos salários. O poder aquisitivo dos servidores públicos tem declinado nas últimas décadas, no mesmo compasso que cresce a massa de servidores terceirizados.

A adoção dessa política recessiva, em um momento de descontrole dos preços do mercado, do aumento do desemprego e da própria falência dos serviços básicos como a educação e a saúde pública e os serviços de inteligência e segurança do Estado constituem uma mistura que se traduz no avanço da carestia e nos índices de violência.

A sociedade brasileira tem sofrido dos efeitos colaterais do remédio amargo para se enfrentar a crise econômica e social. O modelo neoliberal implantado tem acelerado o desaquecimento da produção econômica e afetado a capacidade de arrecadação fiscal do governo.

Com o aumento dos juros e os cortes nos financiamentos ocorre queda no consumo, inflação, inadimplência e o desemprego. A decisão da não reposição salarial dos servidores públicos e o próprio temor no atraso e parcelamento dos salários têm provocado instabilidade em diversas famílias que dependem diretamente do pagamento, já aviltado dos salários. Há diversas categorias que já sofrem na pele as imensas dificuldades para manter um padrão de vida minimamente digno.

O processo inflacionário dos últimos 12 meses já ultrapassa a marca oficial dos 10%. É uma perda significativa, que tende a elevações futuras.Principalmente devido ao fato de nossa defasagem salarial nestes últimos 16 anos chega ao absurdo de 55%.

Há muito tempo não se vivia um quadro tão desolador. O Sindicato dos Servidores Públicos do Estado do Ceará repudia esse retrocesso. Manifesta sua indignação frente à falta de prioridade com os servidores do Estado. E lamenta a falta de diálogo objetivo e os vastos desperdícios com o dinheiro público.
 
Temos  certeza, que as políticas públicas só são eficazes quando se valorizam e se respeitam todos servidores e todas as servidoras que se dedicam, de corpo e alma, a prestar os seus serviços ao bem-estar da coletividade.


Esperamos que o Governo do Estado do Ceará, não cometa a insensatez de levar a frente uma medida que maculará sua história, deixando marcas irreparáveis em sua credibilidade e no compromisso, sempre honrado, com os servidores públicos. As últimas décadas já foram marcadas por perdas salariais significativas. Mas nunca existiu uma atitude tão rude e injusta contra os servidores públicos.  
  

Luiz Edgard Cartaxo de Arruda Junior 
Memorialista, Diretor de Comunicação do Sindicato dos Servidores Públicos do Estado do Ceará – MOVA-SE.

sábado, 12 de dezembro de 2015

Festival Vila Brasil


Amanhã, 13/12 - Domingo - De 09h30h as 0h - Praça das Fontes - Parque da Cidade (em frente ao estacionamento 9**).
Gratuito e imperdível. Vem celebrar a vida!



Emicida no Rio de Janeiro: “Ninguém chora por cinco moleque tipo nóiz"



Ele dedicou o final de seu show no Imperator aos jovens assassinados pela PM carioca quando voltavam da comemoração pelo primeiro salário de um deles

Primeiro, destruíram as vidas em torno de um rio. E diante do pouco que pode se fazer após a tragédia anunciada, veio a solidariedade e a memória: elas foram relembradas em um show na cidade de Belo Horizonte, na terça.

A seguir, mais cinco vidas foram metralhadas pela PM carioca. E para estes “cinco moleque tipo nóiz”, Emicida dedicou os últimos minutos de seu show no Imperator – Centro Cultural João Nogueira, em que interpretou músicas do sambista Cartola.

Em sua fala, destacou a importância de não “selecionar pelo que você chora”, a exemplo da tragédia em Paris, já que ninguém precisa ser vítima de terrorismo, em lugar nenhum. Mas, ressaltou que o que lhe causou indignação, mesmo, foi o assassinato dos cincos jovens em Costa Barros. Eles voltavam de uma comemoração no Parque de Madureira, já que um dos meninos tinha recebido seu primeiro salário. A PM comemorou também, disparando 111 tiros no carro. Trinta deles, acertaram os alvos.

Por eles, Emicida prosseguiu:
5 moleque tipo nóiz
5 moleque tipo nóiz
Que acabaram assim
Que fim, sem voz
Silêncio dos verme
Medalha pro algoz
Quando eles mata
5 moleque tipo nóiz
Não vai ter hashtag
Nem hoje, nem pós
Ninguém chora
Por 5 moleque tipo nóiz
Pra forjar crime que num existe
O jornal é veloz
Triste sina, de 5 moleque tipo nóiz
Pense se fossem brancos
Se fossem playboys
Mas num era
Era 5 moleque tipo nóiz
Então que a mãe de cada um
Chore a sós
É sempre assim quando
É 5 moleque tipo nóiz
Mais luto pra quem sempre luta
Gargantas e nós
Nunca esqueça
Eram 5 moleques tipo nóiz
Je suis porra nenhuma
Somos todos atroz
Quando o corpo é de
5 moleque tipo nóiz
O que mudou
Desde o tempo de nossos avós
Quando acertam
5 moleque tipo nóiz
Mortos como o rio doce
Sangue prum tapajós
Sai do corpo de
5 moleques tipo nóiz
Nessa guerra desigual
Só tem contras, não prós
Sem novidade pra
5 moleques tipo nóiz


Leia a matéria completa em: Emicida no Rio de Janeiro: “Ninguém chora por cinco moleque tipo nóiz” - Geledés http://www.geledes.org.br/emicida-no-rio-de-janeiro-ninguem-chora-por-cinco-moleque-tipo-noiz/#ixzz3u8Fd8ek8 

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

O 18 Brumário de Luís Bonaparte



Tão longe e tão perto.

Marx, não diferente do que pretendo, começa a destinar sua ironia logo pelo título de sua obra. Ironia tal, que nasce do comparar entre o primeiro Napoleão, que também havia dado um golpe de Estado, em nove de novembro de 1799, para tornar-se Cônsul da França, com o seu sobrinho. Acontece, que o calendário que o país havia adotado após a revolução de 1789 correspondia tal data como o dia 18 do mês de Brumário. Assim, Marx compara que o golpe dado por Napoleão III era apenas uma cópia ou, simplesmente um plágio daquele que foi dado antes por seu tio.

Ainda sobre essa obra, analisando e formulando sobre aqueles fatos que haviam acabado de acontecer, Marx repara que: "os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado". Ou seja, ele quis mostrar que apesar do povo ser o protagonista da história humana, as pessoas (a sociedade), só é capaz de agir nos limites que a realidade impõe. Então, a chave para escrever a atual história, não esta só no Congresso, como também, na luta que a sociedade (o povo deve fazer).

Por outro lado, as ações individuais que a "mídia" tanto infla, propaga e alardeia sobre Cunha não são diferentes do que Marx denunciava sobre as expansões individuais de Luis Bonaparte III em sua obra. Essas, por sua vez, não ocupam papel central na minha visão como na de Marx. Para ele e, para esse que aqui escreve, o motor da história segue sendo a luta entre as classes sociais, responsável por produzir as transformações mais importantes. E é nela, que a Classe Trabalhadora do Brasil tem que se agarrar como força poderosa de reação contra o Golpe do Impeachment, até porque não é o Deputado Cunha que tem força para emplacar isso.

Numa conta rápida, ele é tão somente um deputado que nem terá voto no plenário após o resultado da Comissão Especial, agora, por sua vez, quantos votos terão a Bancada da Bala, a Bancada do Latifúndio, a Bancada Conservadora (resquício da Ditadura), a Bancada dos Monopolistas Financeiros e a Bancada Fundamentalista? Lembro aqui, que pelo nosso lado só existe a Bancada Progressista e, ela, por sua vez, terá que buscar apoio da Bancada da Governabilidade e dos Políticos Sério.

Ainda sobre as comparações, como na obra, Marx diz que: de um lado, estão sempre os dominadores e do outro, sempre os dominados. Os primeiros são os que detêm os "meios de produção" (terra, propriedade privada, os meios de produção e etc.), esses, hoje tem um lado muito claro. Já os segundos são aqueles que só possuem a própria força de trabalho e, esses, estão ainda candidamente abrindo os olhos, o lado desses, é o de Defesa da Democracia. Não se enganem, já que pelo nosso lado não há o poder financeiro, o que nos resta é fazer política por coerção de massas.

Já por outro sentido, paradoxalmente e por caminhos antagônicos a Burguesia esta no centro da questão. Na obra de Marx, a Revolução Burguesa marcou a mudança de posição da burguesia no grande jogo quando os mesmos enfrentam o parasitismo da nobreza, cominando na derrubar a monarquia. A burguesia foi se transformando aos poucos, em toda a Europa e depois no resto do mundo, na nova classe dominante. Assim como resultado, deixou de ser revolucionária e se tornou conservadora, preocupada agora, em manter a ordem vigente.

Depois dessa ascensão da burguesia, o proletariado ocupou esse espaço vago como classe revolucionária da história. No Brasil, depois das lutas contra o Golpe Militar e pela Redemocratização do país, isso em 1989, um operário quase ganha as eleições, tal fato, ascendeu o sinal vermelho da burguesia nacional. Ela sem saber o que fazer para resolver essa ameaça aos seus interesses chega como única alternativa, destinar uma enorme energia de apoio a um candidato quem nem era o deles, para depois frita-lo mais à frente.

Destinados a não ficar mais refém desse susto, os mesmos criaram um pacto com um candidato viável. Assim eles hegemonizaram seus os outros dois governos e pegaram a economia nacional para si e seus interesses tão parasitários quanto os da monarquia que eles haviam derrubado anteriormente. E em resposta a isso, a Classe Trabalhadora se destinou numa enorme e gigante jornada de enfrentamento, quem não sem lembra das lutas contra o Neo Liberalismo na década de 1990?

Até que em 2002, um cara barbudo, retirante nordestino que não foi convidado para o banquete deles, se torna a representação dos acúmulos mais genuíno dessa histórica de grandes batalhas. Esse cara aí, através do povo, resolve entra na sala deles e rouba sua caneta. Esse homem de coragem é o Lula.
A verdade é que eles não conseguem aceitar que estamos governando o país de lá pra cá. A tentativa de Impeachment é nada mais, nada menos, do que nos tirar dessa sala, mesmo que Dilma ocupe-a sobre o crivo eleitoral da maioria da população.

Finalizo essa comparação dizendo que Marx no18 Brumário de Luis Bonaparte, focou em demonstrar que a atitude do sobrinho de Napoleão tinha sido apenas um resultado natural, quase previsível, dos rumos que a história da França estava tomando desde a revolução de 1789. E que não há nada de diferente, na questão do Eduardo Cunha aceitar e dar seguimento ao processo de Impeachment, isso, por sua vez, é tão somente dar seguimento ao ciclo natural dos avanços desesperados de nos expulsar da sala de reunião ocupada pelo povo através do operário, barbudo e retirante nordestino. Eles acham que esse espaço de poder é deles, tão somente deles.

Nós não temos os aparelhos de comunicação, não temos os tribunais e nem outros espaços de poder, o único e tão somente o único espaço de poder que a classe trabalhadora ocupou, hoje é o que querem tirar, na marra e no golpe.

Assim como Luis Bonaparte III, derrotado na Guerra Franco-Prussiana por erros estratégicos e desvios egocêntricos e patológicos, Eduardo Cunha será derrotado nas batalhas contra o Impeachment e pela cassação dele, isso, pelos mesmos motivos. Já a Guerra Pela Democracia, essa será ganha pelo povo, quem viver verá!


Pedro Del Castro Filósofo e marxista, consultor político, militante do PT e ex-assessor da CUT-DF. Atualmente é assessor da Fundação Cultural Palmares

http://www.brasil247.com/pt/colunistas/pedrodelcastro/208746/O-18-Brum%C3%A1rio-de-Lu%C3%ADs-Bonaparte-%E2%80%9Cda-Cunha%E2%80%9D.htm

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Fernando Morais: O dia da infâmia




Minha geração testemunhou o que eu acreditava ter sido o episódio mais infame da história do Congresso. Na madrugada de 2 de abril de 1964, o senador Auro de Moura Andrade declarou vaga a Presidência da República, sob o falso pretexto de que João Goulart teria deixado o país, consumando o golpe que nos levou a 21 anos de ditadura.

Indignado, o polido deputado Tancredo Neves surpreendeu o plenário aos gritos de "Canalha! Canalha!".

No crepúsculo deste 2 de dezembro, um patético descendente dos golpistas de 64 deu início ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.

A natureza do golpe é a mesma, embora os interesses, no caso os do deputado Eduardo Cunha, sejam ainda mais torpes. E no mesmo plenário onde antes o avô enfrentara o usurpador, o senador Aécio Neves celebrou com os golpistas este segundo Dia da Infâmia.

Jamais imaginei que pudéssemos chegar à lama em que o gangsterismo de uns e o oportunismo de outros mergulharam o país. O Brasil passou um ano emparedado entre a chantagem de Eduardo Cunha –que abusa do cargo para escapar ao julgamento de seus delitos– e a hipocrisia da oposição, que vem namorando o golpe desde que perdeu as eleições presidenciais para o PT, pela quarta vez consecutiva.

Pediram uma ridícula recontagem de votos; entraram com ações para anular a eleição; ocuparam os meios de comunicação para divulgar delações inexistentes; compraram pareceres no balcão de juristas de ocasião e, escondidos atrás de siglas desconhecidas, botaram seus exércitos nas ruas, sempre magnificados nas contas da imprensa.

Nada conseguiram, a não ser tumultuar a vida política e agravar irresponsavelmente a situação da economia, sabotando o país com suas pautas-bomba.

Nada conseguiram por duas singelas razões: Dilma é uma mulher honesta e o povo sabe que, mesmo com todos os problemas, a oposição foi incapaz de apresentar um projeto de país alternativo aos avanços dos governos Lula e Dilma.

Aos inconformados com as urnas restou o comparsa que eles plantaram na presidência da Câmara –como se sabe, o PSDB, o DEM e o PPS votaram em Eduardo Cunha contra o candidato do PT, Arlindo Chinaglia. Dono de "capivara" policial mais extensa que a biografia, Cunha disparou a arma colocada em suas mãos por Hélio Bicudo.

O triste de tudo isso é saber que o ódio de Bicudo ao PT não vem de divergências políticas e ideológicas, mas por ter-lhe escapado das mãos uma sinecura –ou, como ele declarou aos jornais, "um alto cargo, provavelmente fora do país".

Dilma não será processada por ter roubado, desviado, mentido, acobertado ou ameaçado. Será processada porque tomou decisões para manter em dia pagamentos de compromissos sociais, como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida.

O TCU viu crimes nessas decisões, embora não os visse em atos semelhantes de outros governos. Mas é o relator das contas do governo, o ministro Augusto Nardes, e não Dilma, que é investigado na Operação Zelotes, junto com o sobrinho. E é o presidente do TCU, Aroldo Cedraz, e não Dilma, que é citado na Lava Jato, junto com o filho. Todos suspeitos de tráfico de influência. Provoca náusea, mas não surpreende.

"Claras las cosas, oscuro el chocolate", dizem os portenhos. Agora a linha divisória está clara. Vamos ver quem está do lado da lei, do Estado democrático de Direito, da democracia e do respeito ao voto do povo.

E veremos quem se alia ao oportunismo, ao gangsterismo, ao vale-tudo pelo poder. Não tenho dúvidas: a presidente Dilma sairá maior dessa guerra, mais uma entre tantas que enfrentou, sem jamais ter se ajoelhado diante de seus algozes.

FERNANDO MORAIS, 69, é jornalista e escritor. É autor, entre outros, dos livros "Chatô, o Rei do Brasil" e "Olga"

Com mais produtos, MST lança cesta de natal pelo segundo ano consecutivo



Da Página do MST

Pelo segundo ano seguido, o MST lança a cesta de natal com produtos da Reforma Agrária. São mais de 22 itens produzidos nas áreas de assentamentos da Reforma Agrária de todas as regiões do Brasil. Café, suco de uva e dois tipos de arroz orgânico, palmito, dois tipos de cachaça, polpa de tomate, castanha de caju e panetone são alguns dos produtos que compõem a cesta.

Para Adalberto Oliveira, do setor de produção do MST, a cesta é mais uma forma divulgar à sociedade a produção de alimentos de qualidade produzidos nos assentamentos.

“Mais do que tudo, a cesta serve para que as pessoas conheçam e tenham acesso a estes produtos. O MST é muito conhecido pelo seu potencial de luta e mobilização. Isso é muito bom, mas depois de 30 anos também queremos que as pessoas conheçam nossas conquistas, e uma delas é a nossa produção”.

Oliveira ainda destaca a Loja da Reforma Agrária que está para ser inaugurada no primeiro semestre de 2016 na região central da cidade de São Paulo, que contribuirá ainda mais para aproximar de forma permanente o público da cidade com a produção dos assentamentos e acampamentos. A cesta custa R$ 200,00, e será entregue apenas na região da grande São Paulo.

Os Sem Terra do Distrito Federal, no entanto, também estão organizando uma cesta para o final de ano para a região. Ao custo de R$ 170,00 a cesta conta com 19 produtos das agroindústrias e cooperativas dos assentamentos do DF e Entorno e de outras regiões do Brasil.

Para adquirir a cesta na grande São Paulo, basta entrar em contato com o email lojanac@mst.org.br, ou ligar para os números: (11) 2131-0880/(11) 3333-0652.
Já os contatos da cesta do Distrito Federal são (61) 9861-3608 ou (61) 9833-9958.

Abaixo, veja a lista dos produtos abaixo:
Panetone, Feijão, Arroz Polido, Arroz Integral, chá – mate, Leite UHT, Terrinha, creme de leite, leite condensado, suco de uva, farinha, cachaça veredas, rapadura, doce de pêssego, café, doce de leite, polpa de tomate, castanha de baru, palmito, açúcar mascavo, melado e cachaça camponesa.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

O feminismo matou o playboy - e a Playboy


 
steinem
(A feminista Gloria Steinem disfarçou-se de coelhinha para escrever um artigo em 1963: A Bunny’s Tale, Um Conto de Coelhinhas. Infiltrou-se no clube Playboy em Nova York e denunciou a situação de servidão a que eram submetidas as moças ali)

A revista Playboy norte-americana não vai mais publicar fotos de mulheres nuas. E a revista Playboy brasileira vai acabar. O que está acontecendo no mundo das revistas masculinas? A ampla oferta de pornografia grátis na internet provou-se fatal à ideia de pagar para ver mulher pelada, ao mesmo tempo que as celebridades do momento passaram a cobrar cada vez mais para tirar a roupa. Mas será que é só uma questão de grana? Duvido.

Nos anos 1980 e começo dos 1990, praticamente todas as atrizes de destaque da Globo foram parar nas capas e páginas da Playboy. Christiane Torloni, Claudia Raia, Lídia Brondi, Maitê Proença, Vera Zimmerman, Lúcia Verissimo… Os ensaios eram de muito bom gosto e não havia por que não topar – a não ser por pudor. Um cachê alto, às vezes suficiente para comprar um apartamento, um cenário idílico no Brasil ou no exterior e um fotógrafo de renome para garantir que não se ultrapassaria o limite do bom gosto. Impossível não se orgulhar do resultado.

Naquela época, posar na Playboy era uma ousadia e motivo de vaidade para a retratada, que se via belíssima nas páginas da revista, como veio ao mundo. Desconfio até que seja uma ótima lembrança do passado para quem fez as fotos no auge da juventude e da beleza… Ninguém “encanava” com o fato de ser “objetificada”. Seu corpo estava ali em pelo porque um bando de marmanjos, ao olhar estas estrelas na TV, pensavam: “Hum, como eu queria ver essa mulher nua. Eu seria capaz até de PAGAR para isso”. E as mulheres, entre lisonjeadas e provocativas, cediam.

Era preciso ir além do “despir com o olhar”, era preciso literalmente arrancar a roupa delas para mostrar o que tinha por baixo. Posar para a Playboy era realizar o fetiche de milhares de homens de, não podendo pôr as mãos, colocar os olhos sobre os seios, a bunda e a xoxota daquelas mulheres incríveis que apareciam vestidas nas novelas e programas de televisão. Para povoar seus sonhos eróticos diante da musa inalcançável, mas sem deixar muito espaço à imaginação. As tiragens das edições mais disputadas chegaram à casa de 1 milhão de revistas vendidas por mês. Hoje vende cerca de 70 mil exemplares mensais.

Playboy estreou no Brasil em agosto de 1975 sob o nome de Homem, porque a ditadura não permitira a entrada da marca no país. Só em 1978 passou a se chamar Playboy. Nas primeiras capas, chamavam a atenção os nomes dos colaboradores, escritores e intelectuais de renome, todos do sexo masculino, ao lado da garota que estrelava o ensaio nu – inicialmente, sempre acompanhada do seu “dono”: havia um homem na capa com ela. A revista deixava claro que era feita para homens lerem. As mulheres, com pouca ou nenhuma roupa (e intelecto), eram só um aperitivo delicioso.

Nestes 40 anos, a revista passou da xoxota peluda à xoxota depilada, da xoxota sutil à xoxota escancarada, do peito pequeno ao siliconado, da bunda normal à gigantesca. Depois das atrizes dos anos 1980, veio a era das dançarinas do Tchan, seguidas pelas ajudantes de palco misteriosas, pelas mulheres-fruta e finalmente pelas subcelebridades do programa Big Brother. Excepcionalmente, uma ou outra global saía na capa, mas ficou cada vez mais raro. As grandes estrelas da TV não  topam mais mostrar a xoxota na Playboy. Por que elas se recusam? Porque mulher empoderada não se deixa objetificar, ora. Observe a atitude das capas mais desejadas da Playboy atualmente: Camila Pitanga. Não quer posar. Giovanna Antonelli. Não quer posar. Luana Piovani: já disse mil vezes que não mostra a “perereca”. Muitas atrizes que fizeram no início da carreira, como Juliana Paes ou Grazi Massafera, afirmam que não fariam de novo.
E muito menos numa revista em franca decadência, apesar de continuar a trazer boas entrevistas. Daí a solução dos executivos norte-americanos de acabar com as mulheres nuas. Economiza-se a grana do cachê da estrela e da produção (muitas revistas onde elas aparecem com roupa não pagam cachê), eleva-se o status da revista, e ela continua a existir para ser lida por um tipo de homem que não é mais aquele que ela representava.
Até por isso eu acho que a revista Playboy, com ou sem mulheres nuas, não tem futuro: o “playboy” simplesmente caiu de moda. É cafona. Olhem para Hugh Hefner, o fundador da revista. Que homem em sã consciência iria tê-lo como paradigma? Imagina, o cara passou os últimos 50 anos usando roupão de seda e com um copo na mão!

O playboy Hugh Hefner imortalizado em cera no museu de Madame Tussaud, em Paris, com seus indefectíveis copo, roupão e pijamas de seda)
 
Graças à influência do feminismo, o modelo de homem heterossexual que inspira outros homens é muito menos mulherengo, fútil e farrista do que no passado. O homem que os homens querem ser não é necessariamente casado, mas, quando tem uma mulher ao lado, ela não é só um perfil de cabelos loiros beijando o seu rosto. É um homem que respeita a mulher. Bom pai, companheiro. Não um playba.

Mas, se por um lado me agrada a ideia de as mulheres conscientes não quererem mais desnudar seus corpos em uma página de revista por dinheiro e para agradar aos homens, por outro, também vejo o fim da Playboy como um sinal do neopuritanismo dos tempos em que vivemos. Se opor à objetificação se torna também, de certa forma, uma nova forma de repressão. Da própria mulher ou de terceiros: há com certeza quem não pose na Playboy porque acha brega, vulgar e porque não quer se expor, mas também há quem não pose para não desagradar maridos, pais e filhos. Isto é repressão, não?

Qual o problema, afinal, em ficar nua (ou ficar nu) numa revista? Apenas pela estética, pela beleza plástica, por exemplo. Porque vamos combinar, né? Alguns ensaios eram lindos. Eu particularmente sou fã da foto da Vera Zimmermann boiando em página dupla (Klaus Mitteldorf, 1991) e da Adriane Galisteu (J.R.Duran, 1995) se depilando. São fotos bonitas, sexy. Que mal há nelas?

Ao que tudo indica, as mulheres dos anos 1980 eram melhor resolvidas com a nudez, em ser fotografadas sem roupa. Na lista das dez capas mais vendidas de todos os tempos, só Marisa Orth e Adriane escaparam de se tornar evangélicas.

 Salve-nos da culpa, Senhor!
(Clique aqui para ler A Bunny’s Tale, de Gloria Steinem, no original em inglês)

 http://www.socialistamorena.com.br/o-feminismo-matou-o-playboy/