Tenho a convicção de que alterar o
marco regulatório, fazer leilão de novos campos ou vender qualquer
ativo da Petrobrás em um período de incertezas e baixas no preço seria
uma verdadeira burrice e prejudicaria muito o povo brasileiro.
22/01/2016
Por Cibele Vieira
A
Petrobrás continua sendo o principal foco da mídia, que agora passou a
noticiar a queda do preço do barril de petróleo como se tivesse começado
em janeiro.
No ano passado, os petroleiros fizeram a
maior greve desde 95, como parte de uma campanha que envolveu vários
movimentos sociais: “Defender a Petrobrás é Defender o Brasil”! Campanha
que se opõe aos projetos de entrega do pré-sal ou da quebra do regime
de partilha e às vendas de ativo da Petrobrás.
Os
grandes atos de março, abril, agosto, setembro, outubro e a greve da
categoria traziam a defesa da Petrobrás e do petróleo como um dos temas,
mas os noticiários pouco abordaram este aspecto dos atos.
Transmitiram
apenas as denúncias da Operação Lava-Jato e, de forma seletiva,
escondendo a crise do setor petrolífero no mundo passando a idéia de que
a culpa de tudo que ocorre com a Petrobrás é culpa do PT. Quando
passava alguma coisa do Oriente Médio tratavam apenas da crise dos
refugiados que, mesmo assim, foi pouco noticiada mediante a gravidade da
situação, sem abordar os motivos dessa crise.
2016
começa como mundo à beira da 3° Guerra Mundial, talvez algo
intermediário entre as guerras “tradicionais” e a guerra-fria. Com o
preço do petróleo abaixo dos 30 dólares não há mais como esconder a
crise e aos poucos fica evidente que a situação atual da Petrobrás pouco
tem a ver com a corrupção dentro da empresa.
Investimentos
em petróleo são planejamentos de longo prazo, portanto, o excesso de
oferta atual é fruto de investimentos feitos quando a economia mundial
estava aquecida. A produção de petróleo não é tão flexível quanto às
flutuações do mercado financeiro e da atual economia. Leva-se um tempo
para conseguir reduzi-la mesmo que se opte por isso.
O
contrário também é verdadeiro: quando a economia mundial voltar a
crescer, vai demorar para a oferta de petróleo subir. Mas não podemos
esquecer que estamos falando de um bem estratégico, cuja importância não
é apenas a obtenção de lucro, fato que a grande mídia ainda esquece de
dizer.
Poucos sabem, mas com a quebra do lastro ouro nos
anos 70, houve um acordo entre os EUA e a Arábia Saudita de só
comercializar petróleo em dólar americano, os 'petrodólares'. Portanto,
além de ser essencial militarmente (para transportar soldados e
bombas), na indústria (como energia), para o transporte (de pessoas e
mercadorias), para aquecer as casas nos países frios e como
matéria-prima para milhares de produtos; é o petróleo o que garante aos
Estados Unidos a hegemonia da moeda internacional.
Não
me arriscarei a dizer se os preços continuarão baixos ou subirão, mas é
preciso ter em mente que além da disputa por mercado há interesses
geopolíticos maiores do que quebrar a indústria do gás de xisto
americana por trás da queda dos preços que beneficiam o próprio Estados
Unidos.
Tenho a convicção de que alterar o marco
regulatório, fazer leilão de novos campos ou vender qualquer ativo da
Petrobrás em um período de incertezas e baixas no preço seria uma
verdadeira burrice e prejudicaria muito o povo brasileiro.
Cibele
Vieira é socióloga (Escola de Sociologia e Política de São Paulo (ESP) e
diretora do Sindipetro Unificado de SP e da CNQ (Confederação Nacional
do Ramo Químico).
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