quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Kafka nunca esteve tão presente em nossa sociedade brasileira

Não comemorei, não comemoro e não comemorarei a prisão de ninguém, além da crítica institucional e jurídica à todo processo da lava jato, meu sentimento de consternação ao que nos dirigimos é também de constrangimento, retornamos a sociedade do espetáculo, aplaudimos a derrota dos grandes e não nos incomodamos mais com a injustiça, ela se tornou parte do nosso mundo político e de nossa sociedade, a prisão de Marcelo Odebrecht e a destruição de uma empresa com o porte e a importância de sua construtora não é unicamente a prisão de um empresário é da demissão de milhares de pais e mães de família, é a anulação de um braço empresarial que compunha a defesa nacional e ações estratégicas de mercado, força empresarial que faz parte de uma das principais linhas de produção e desenvolvimento tecnológico do país, não estou defendendo a empresa ou o empresário, estou incomodado com o rumo que seguimos e a forma como essa sociedade retratada por Kafka não percebe as questões prioritárias ou sua própria percepção enquanto membro de uma sociedade, ser parte é da nossa natureza, não vivemos isolamos, independentes, mesmo assim essa sociedade não se percebe parte e torce pela destruição. 


Não comemorei a prisão de Eike Batista, se pesquisarem minhas mensagens de anos anteriores iram achar críticas ao modelo empresarial deste senhor, o considerei produto da imprensa, uma falha comercial que deu certo momentaneamente, nunca apostando ou arriscando com seus próprios recursos, mas, sempre contando com grandes linhas de financiamento nacional e estrangeiras, formado por um grande aparato midiático e assim se fez um bilionário da Forbes, com pouco conteúdo, pouco método ou experiências que contribuíam de alguma forma com o conteúdo nacional, diferente da OAS, Odebrecht, Camargo e Correia e todas essas empreiteiras envolvidas e relacionadas na Lava Jato, Eike sempre me pareceu uma aposta perdida e mesmo assim não comemoro sua prisão, pelo contrário me parece ser o melhor exemplo de que tudo o que é construído pela grande imprensa também pode ser destruído sem nenhum pudor, mas, com toda honra, qual o nível e comprometimento destes editoriais que constroem a imagem perfeita da destruição para o consumo da sociedade.


Não comemoro, nem comemorarei a prisão de nenhuma figura pública, o desvio de conduta, a apropriação indevida, conchavo, conluio, qualquer que seja o modelo ou forma que se de a corrupção pública não é criação desta década, século ou milênio, não foi Lula, FHC, Dilma, Serra, Zé Dirceu, Alckmin, nem de Maluf ou Tancredo, a operação Lava Jato confunde para não informar, esse é o cerne principal, ou muda-se o sistema político e sua co relação com o funcionamento público, ou repensamos toda a estrutura de contratação e o modelo de Estado e sua forma de se relacionar com o setor privado ou enxugaremos gelo, destruiremos biografias quando interessar, enalteceremos quando convir e destruiremos tudo novamente, seremos sempre a sociedade do golpe sofrido e praticado, uma sociedade sem formação e informação com poderes que lhe representam intrinsecamente direcionados ao aparelho, aparato e a corporação. Não comemoro, não irei comemorar, ver os aplausos me incomoda, simplesmente por ter certeza de que, quem aplaude não entendeu nada do que está acontecendo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário