Galera, neste pouco tempo de secretaria já vivi muita coisa interessante. Vou relatar todas, mas, a experiência deste final de semana eu preciso dividir com todos o quanto antes. Fui convidado para participar de uma cerimônia indígena em celebração do milho, lá no Santuário dos Pajés. De início, só dessa área ser no meio do polêmico noroeste, já é um fato interessante, e além disso, ter presenciado o que eu vi e aprendi lá, me deixou muito mais intrigado ainda. O choque visual é constrangedor. Entrar naquele setor que se tornou o atual canteiro de obras mais caro do país e, em poucos segundos estar dentro de uma reserva indígena, dá a qualquer pessoa uma sensação de apreensão. Não sei bem se este é o termo certo, porém, de um lado estão os canteiros, buracos, tratores, trabalhadores, vias largas, poeira, construções incríveis, vendedores e de outro lado está uma estrada única que só passa um carro e é exatamente o único caminho de ida e de volta, cercado de vegetação real do cerrado, preservada, verde e sinais nítidos de confronto na mata.
Neste dia 14 de maio de 2011, sábado, eu pude presenciar uma pequena porção da história. Pude presenciar o canto da tribo, a dança, o lugar como um todo, e cada sentido, a pintura da pele, o artesanato e o bom trato e a relação que eles têm com a natureza, tudo isso foi muito lindo, principalmente a parte da música. Porém, uma das coisas que mais me chamou atenção foi a quebra de um paradigma, e tenho que confessar: esta cena ainda não saiu da minha mente! Vou tentar retransmitir em letras o que foi tão impactante. Estávamos em uma tenda, elevada por oito pontos laterais, coberta de muita palha e uma grande lona que protegia da chuva. O espaço era aberto, sem paredes, e na entrada várias sinalizações e quadros da FUNAI, do Governo Federal, do Ministério da Justiça, além de quadros confeccionados pelos próprios índios. As pessoas que vinham chegando se assentavam em torno de uma fogueira, com fogo brando quase apagado. O cheiro de fumaça e de terra se misturavam. Meu amigo Auamirin era o cicerone, e ele nos informava sobre a guerra que era travada entre as famílias que vivem no Santuário dos Pajés e as construtoras que estão no Noroeste dia e noite sem parar. Todo mundo que chegava acomodava-se em um tronco deitado no chão, como um sofá, e prestava bastante atenção ao que Auamirin falava.
Quando Auamirin terminou de falar sobre o conflito, começou um discurso quase que como uma pregação sobre o cuidado com a natureza, o meio ambiente, as formas de preservação e a nossa motivação para vivermos uma vida melhor, com qualidade, poder retirar da natureza o que ela realmente pode oferecer sem riscos. Auamirin também falou sobre o lixo, o respeito ao próximo, o cuidado com as vidas, o direito da terra, dos povos, sobre reconstruir valores perdidos na sociedade e durante toda aquela palestra brilhante eu parei para prestar atenção ao que estava acontecendo em minha volta: vários homens e mulheres que tiveram em seus antepassados catequizadores, doutrinadores, caçadores de índios prestando total atenção em um índio que ministrava uma palestra sobre cidadania, naquele momento, os papeis se inverteram, e o índio ensinava e doutrinava o “branco”, e o “branco”, neste exato momento, era o selvagem que precisava entender sobre cidadania.
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